domingo, 1 de janeiro de 2012

2012

Em todas as passagens de ano, assim que os fogos começam a subir, relembro dos acontecimentos do ano anterior e estabeleço, em linhas gerais, o que quero fazer no seguinte, que acaba de chegar. Mas nunca consigo terminar (pelo menos durante a virada) porque quando os fogos estouram, vemos primeiro as luzes e depois ouvimos o som - e ai eu já penso em física e meu planejamento fica em segundo plano, hahahaha.


Esse ja é um fato óbvio para nós, afinal, sabemos todos que a velocidade da luz no vácuo é da ordem de 3x10^8 m/s e que a velocidade do som no ar é algo em torno de 340 m/s (a luz viaja aproximadamente um milhão de vezes mais rápido que o som no ar). Portanto, o piscar dos fogos de artifício é visto quase que instantaneamente, mesmo se você estiver a quilômetros de distância do local de emissão. Por outro lado, o som "que acompanha" o piscar dos fogos chega tanto mais  atrasado aos seus ouvidos quanto maior for a separação entre você e a fonte da explosão dos fogos, e às vezes até nem chega a ser ouvido, dependendo da ordem de magnitude dessa distância.
Embora o papo seja sobre física elementar, é interessante notar que o homem não nasceu sabendo da diferença entre velocidade do som e da luz - talvez por muito tempo acreditou serem iguais até perceber que esse mesmo fenômeno moderno dos fogos de artifício ocorre com raios e trovões. É provável que nos séculos XV e XVI uma investigação mais profunda tenha começado sobre esse assunto, porém os cientistas só conseguiram determinar a velocidade do som e da luz com precisão razoável no século XIX.

Há também outras ocasiões que me despertam para pensar em física - o metrô é uma delas, por exemplo. É bem manjado falar de metrô quando estudamos sobre movimento relativo, conservação da quantidade de movimento, fenômenos da dinâmica em geral, mas é muito mais interessante pensar nesses assuntos durante uma viagem dentro do vagão. Na hora que o metrô em que estamos inicia seu movimento, podemos nos iludir e pensar que o vagão que está em movimento é, de fato, um outro vagão parado que vemos pela janela, não o que estamos. Por frações de segundo a sensação é totalmente verossímil e compatível com a ideia básica da dinâmica - os movimentos dependem de um referencial. Durante a viagem, soltar as mãos e ser surpreendido por uma frenagem quase sempre resulta em pessoas arremessadas, xingamentos e reclamações. Mas nós, que somos meio malucos e pensamos em física dentro do metrô, agradecemos a ocasião pois verificamos a inércia, o atrito e o torque (sem o atrito, permaneceríamos indo para frente; ele puxando nossos pés, somado com o a inércia, cria um torque que tende a nos levar para o chão). Então na próxima freada conseguimos contrabalancear esse efeito jogando o corpo para trás - o que faz com que o torque gerado pela força peso seja igual ao torque gerado no momento da frenagem, mas em sentido contrário - daí não sofremos o arremessão. Enfim, não se pode negar que o metrô é um prato cheio para os doidos de plantão, e não por acaso Einstein utilizou-os para demonstrar mentalmente algumas experiências da sua relatividade restrita.

Brincadeiras à parte, acredito ser essencial, para o ser humano, possuír esse espírito de investigação, de observação. Questionar e pesquisar são ferramentas importantes - não só para desvendarmos esses pequenos fatos do cotidiano sobre a ótica da ciência e satisfazer nossas curiosidades pessoais, mas também para não cometermos enganos, não sermos "passado para trás". Infelizmente essas ações estão perdendo seu valor num mundo que caminha para a desgraça: Nunca antes, na história da humanidade, se esteve tão cheio de tecnologias e conhecimentos acumulados, que podem servir de forma útil para qualquer um, em qualquer situação e em qualquer lugar do globo; mas nunca se aceitou tantas besteiras como as que lemos, vemos e ouvimos todos os dias, de forma avassaladoramente passiva, como se aceita atualmente.

Portanto, eu desejo que em 2012 a humanidade se desperte do sono dogmático da ignorância que a assola há tempos!

Um grande abraço para todos os amigos e leitores do blog.


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