sábado, 21 de maio de 2011

Tememos os livros

Ultimamente tem sido difícil preparar textos. Rascunhei por duas vezes um tema para chegar à conclusão que o jeito mesmo é escrever o que vier na cabeça. É como se o tema fosse a pedra bruta a ser lapidada, e de tanto trabalho e retrabalhos aqui e ali, ela acaba perdendo seu valor.

Estudando termodinâmica deparei-me com a seguinte passagem: "Os dois enunciados da segunda lei da termodinâmica são negativos.  Naturalmente, é impossível provar uma afirmação negativa".

O livro se referia aos enunciados de Kelvin-Planck e Clausius da segunda lei da termodinâmica, que dizem ser impossível construir um motor miraculoso e um refrigerador miraculoso, para ser sucinto. O motor miraculoso transformaria (de forma cíclica) uma quantidade de calor totalmente em trabalho, sem nenhum outro efeito, e o refrigerador miraculoso faria (de forma cíclica) a transferência de calor de uma fonte fria para uma fonte quente sem utilizar trabalho.

Da natureza negativa das afirmações, isso não há o que negar (hehehe). Agora quando o livro diz que é impossível provar uma afirmação negativa, isso é completamente errado.

Se eu postulo: Não existem cachorros em São Paulo, minha afirmação é negativa, mas nem por isso é impossível de provar. Basta alguém ir para lá, encontrar um cachorro para que meu postulado caia.

Da mesma forma, se alguém apresentar um motor/refrigerador miraculoso, as proposições de Kelvin e Clausius também caem.

No entanto acredita-se, por nunca ninguém ter descoberto um contra-exemplo e pelas evidências experimentais, que as proposições da segunda lei são verdadeiras e assim permanecerão pela eternidade. Assim elas adquirem um caráter axiomático na física. Nesse sentido, é correto dizer que axiomas são impossíveis de se demonstrar, uma vez que eles constituem os fundamentos pelos quais as outras coisas são demonstradas e nada existe anteriores a eles. (É como pensar "o que contém o universo?" - para todos os efeitos, dizemos que nada contém o universo e pressupomos que o universo simplesmente é. O resto é resto, e decorre disto.)

Enfim, tendemos a acreditar em tudo o que lemos nos livros, mas é preciso ter senso crítico para determinar o que está certo e o que não está. Já detectei muitos erros em outros livros, esses ficam para outros posts.

Abraços termodinâmicos a todos.

sábado, 14 de maio de 2011

Mudança de Base

Ultimamente a correria não me deixa ter tempo de sentar e teclar um post grande e elaborado, mesmo tendo várias ideias para escrever - com algumas delas já escritas no papel.

Esse post vai precisar da boa vontade do leitor. Vou escrevê-lo sem muito cuidado, ainda mais porque vi que o suporte do LaTeX foi para o saco, e portanto não consigo escrever mais equações, assim, o papo será mais qualitativo do que os anteriores.

O que quero falar é sobre mudança de base, e para começarmos é preciso lembrar de algumas coisas:

Primeiro, é preciso lembrar que sempre ao trabalhar com vetores implicitamente assumimos que exista um espaço vetorial, dentro do qual os vetores estão definidos. Mas como os vetores estão definidos nesse espaço vetorial? Bem, para isso basta pegar um conjunto arbitrário de vetores e "fazer" todas as combinações lineares possíveis entre esses vetores. O fazer vai em aspas porque não fazemos de fato todas as combinações. Mas sabemos que, tomando um conjunto A de vetores, podemos fazê-lo corresponder a um outro conjunto B (infinito) de vetores cujos elementos são todas as combinações lineares possíveis dos elementos de A. Dessa forma B torna-se um espaço vetorial, e o conjunto A é chamado conjunto de geradores de B.

Agora repare que não impomos nenhuma condição sobre o tamanho do conjunto A, isto é, do conjunto gerador. Essa arbitrariedade permite que tentemos determinar o espaço vetorial B com o menor numero de elementos possíveis. Isso dá origem ao que chamamos de base. Assim, a base de um espaço vetorial fica definida como o menor conjunto gerador desse espaço vetorial (Essa definição parece lógica circular, mas não é!!).

Avançando um pouco, pode-se provar que a base de um espaço vetorial não é única e que qualquer base de um espaço vetorial tem a mesma quantidade de elementos (Repare que é natural isto acontecer). Esses teoremas dão origem ao que queremos chegar: mudança de base.

Então seja V um espaço vetorial tridimensional (por convenção) e x e w duas bases desse espaço. Se na base x um vetor v tem coordenadas (a,b,c) e na base w, v = (a',b',c'), como descobrir a relação entre a e a', b e b', c e c'? 

Essencialmente, esse é o problema de mudança de base - como expressar as coordenadas de v na base w sendo que você só conhece suas coordenadas na base x?

Para atacar esse problema, é preciso prosseguir da seguinte maneira:

  • Suponha que v = a x1 + b x2 + c x3 (na base x) e v = a' w1 + b' w2 + c' w3 (na base w).
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  • Como os vetores da base x e w pertencem ao mesmo espaço vetorial V, então é possível escrever tanto os vetores de x como combinação linear dos vetores de w e vice-versa - esse é o ponto principal para resolver esse problema!
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  • Se você escrever essa combinação linear (por exemplo x1 = k11 w1 + k12 w2 + k13 w3, x2 = k21 w1 + k22 w2 + k23 w3, x3 = k31 w1 + k32 w2 + k33 w3) e resolvê-la para k_ij, chega-se numa matriz M dos coeficientes k.
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  • Reserve essa matriz. Agora se você trocar o x1, x2, x3 na expressão de v = a x1 + b x2 + c x3 por x1 = k11 w1 + k12 w2 + k13 w3 ... (e assim por diante), e agrupar os termos em w1, w2 e w3, poderá fazer uma relação com v na base w, e assim determinar a relação de entre os coeficientes a e a', b e b', c e c'. Essa relação acaba sendo, no fim, a matriz transposta da relação entre as bases, M^t.
Basicamente, essa é a maneira como chegamos na matriz de mudança de base. Pode parecer meio complicado numa leitura, mas se o leitor estiver acompanhando com lápis e papel em mãos e acompanhando os passos com cuidado, é possível chegar nos resultados que tentei transcrever nessas palavras).

Então a P é a matriz de mudança de base de x para w, então P^(-1) é a matriz de mudança de base de w para x (não podia ser diferente).

Bem, depois é legal relacionar a mudança de base como uma transformação linear - fica mais interessante. Talvez num próximo post.


Abraços!

domingo, 1 de maio de 2011

Ausência

Muito trabalho na faculdade, por isso minha ausência no blog.

E acho que muito trabalho para o pessoal de 2011 também, pois ninguém aparece nos dias de monitoria.

Até o próximo post, quando o tempo me permitir.

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