Dentre os livros e apostilas de auto-ajuda, aqueles que falam sobre e "ensinam" leitura dinâmica são de longe os piores. Digo isso porque a promessa é sempre a mesma: métodos infalíveis para ler, sei lá, 6000 palavras em um minuto, comprovados científicamente, tratando a leitura como se fosse uma disputa de atletismo. Às vezes ainda dizem que o método garante melhor raciocínio e memorização, tudo no mesmo pacote. Se você pensa em se tornar esse triatleta (rapidez, memória e raciocínio) literário, peço desculpas, mas acontece que esses livros e apostilas não passam de falácias (seus autores só querem arrecadar dinheiro). Antes de ir aos fatos, primeiro é bom dizer que não acho de tudo ruim livros de auto-ajuda em geral, desde que se lidos de maneira correta (o leitor não precisa seguir de cabo a rabo as indicações desses livros, mas sim, tê-las como ideias para estruturar alguma atividade, etc.), assim como acredito ser possível desenvolver uma boa leitura, mas não do modo como é apresentado.
Ocorre que a leitura é um processo demorado, que só traz resuldados depois de um bom tempo de dedicação. Existe um período até que o leitor se habitue à prática de leitura, em que ele descobre qual o melhor jeito de ler (por exemplo, se prefere ler todo o texto rapidamente para depois ler outra vez com mais calma), a melhor posição, se prefere a luz do dia ou uma luz de lâmpada, esse tipo de coisa. Com a prática, é possível aumentar a velocidade de leitura naturalmente, na medida em que o texto em questão permita essa velocidade. O que quero dizer é: não se gasta o mesmo tempo lendo-se um jornal ou um livro. Cada um exige uma atenção diferenciada.
Nesse sentido, eu prefiro até classificar a leitura como sendo corriqueira ou completa.
Leitura corriqueira é aquela em que não existe compromisso em extrair toda a informação possível do texto, no sentido de que a mensagem que o excerto quer passar não vai ser perdida se um ou outro detalhe for omitido. Por exemplo, não é necessário que você saiba o nome do delegado, do bandido, e da vítima, para saber que ocorreu um assassinato. Esse tipo de leitura é comum ser feita às pressas, dentro de um ônibus, num ambiente inapropriado, com barulhos, etc. Não só jornal, mas livros de contos, romances, ficção, são, na minha opinião, também passíveis de leitura corriqueira.
Nesse sentido, eu prefiro até classificar a leitura como sendo corriqueira ou completa.
Leitura corriqueira é aquela em que não existe compromisso em extrair toda a informação possível do texto, no sentido de que a mensagem que o excerto quer passar não vai ser perdida se um ou outro detalhe for omitido. Por exemplo, não é necessário que você saiba o nome do delegado, do bandido, e da vítima, para saber que ocorreu um assassinato. Esse tipo de leitura é comum ser feita às pressas, dentro de um ônibus, num ambiente inapropriado, com barulhos, etc. Não só jornal, mas livros de contos, romances, ficção, são, na minha opinião, também passíveis de leitura corriqueira.
Já leitura completa pressupõe que o leitor "firme um contrato" com o veículo da informação, para extrair dele o máximo que se pode. Esse contrato a que me refiro é um compromisso de leitura lenta, sem pressa de acabar, lenvando-se em conta cada detalhe e nuance do texto, e para isso é necessário tempo, silêncio, imersão e intimidade com o que se lê. Livros científicos, ensaios, ou romances cujas histórias são intrincadas, cheias de indas e vindas, com diversos personagens importantes que surgem, somem e ressurgem no decorrer do conto são exemplos de leituras completas, tanto porque as informações dadas no início do texto são importantes até seu fim, quanto porque exigem mais atenção em relação ao que chamei de leitura corriqueira.
É lógico que a leitura corriqueira pode passar a ser completa, desde que o leitor evite a pressa e procure entender passo a passo o que está no texto, anote os pontos principais, entre outras ações que ajudem no entendimento.
Nos dois casos, entretanto, a prática é benéfica para quem lê, pois estimula, de fato, o raciocínio, a fala e a escrita. Não que você se tornará um gênio, orador ou poeta, mas é claro que existirá uma evolução nessas capacidades.
Se por um lado é necessário ter paciência para ler e se habituar a ler, de outro lado os cursos de leitura dinâmica buscam o oposto, isto é, a premissa é simplesmente ler apressadamente. Dai dizem inventar métodos que agilizam a leitura, sendo que são atitudes naturais que, como supracitado, são adquiridas com o tempo, e não da noite pro dia. Além do mais, insistem em exercícios de velocidade que desvirtuam totalmente o sentido da leitura, que passa a ser perceptiva e não interpretativa. O que quero dizer é que ter habilidade de reparar em 300 palavras diferentes num intervalo muito pequeno de tempo não lhe faz interpretar mais rápido um texto, mas sim lhe faz reparar em 300 palavras ao mesmo tempo.
Se por um lado é necessário ter paciência para ler e se habituar a ler, de outro lado os cursos de leitura dinâmica buscam o oposto, isto é, a premissa é simplesmente ler apressadamente. Dai dizem inventar métodos que agilizam a leitura, sendo que são atitudes naturais que, como supracitado, são adquiridas com o tempo, e não da noite pro dia. Além do mais, insistem em exercícios de velocidade que desvirtuam totalmente o sentido da leitura, que passa a ser perceptiva e não interpretativa. O que quero dizer é que ter habilidade de reparar em 300 palavras diferentes num intervalo muito pequeno de tempo não lhe faz interpretar mais rápido um texto, mas sim lhe faz reparar em 300 palavras ao mesmo tempo.
Como eu acredito ser em grande parte mentira esses métodos de leitura dinâmica, vou tomar como exemplo um site que encontrei digitando leitura dinâmica na busca do google. É um site que vende um curso sobre leitura dinâmica, mas não vou divulgar o endereço, somente transcrever alguns trechos.
De cara, é muito fácil reparar que o site é todo redigido de forma a encobrir o conteúdo do curso mas feito para persuadir o comprador. Todos os argumentos são falaciosos em sua totalidade. Em verde, vão os pontos principais de cada tópico.
De cara, é muito fácil reparar que o site é todo redigido de forma a encobrir o conteúdo do curso mas feito para persuadir o comprador. Todos os argumentos são falaciosos em sua totalidade. Em verde, vão os pontos principais de cada tópico.
- Textos exclamativos em excesso: O nome do site, ou pelo menos o que vai escrito na borda do navegador é "A ciência da fotoleitura - leitura dinâmica - memorização - mapas mentais". Repare que palavras relacionadas e inclusive a ciência é utilizada sempre que se pretende dar credibilidade ao assunto. Outras frases de impacto levam o consumidor a achar que, depois do curso, vai virar um super herói: "Quem não gostaria de descobrir como usar essa nova tecnologia cientificamente comprovada para aumentar seus poderes mentais". Olha ai denovo a palavra relacionada a ciência: "tecnologia cientificamente comprovada".
- Frases fortes com sentido fraco: Descendo a barra de rolagem, o site diz: "Esse site é recomendado para quem está querendo: Ler a velocidades médias de 1 página por segundo; aprender o que quiser, mesmo se for muita coisa, em tempo recorde; acrescentar alguns terabytes a mais em sua memória." Eu consigo ler uma página em cada segundo, desde que cada página tenha umas 3 palavras... Repare novamente termos científicos e tecnológicos na última frase. Veja que nenhuma frase acrescenta informação relevante, só diz o mais do mesmo de outra maneira. Digamos que o vendedor quer condicionar o cliente a se acostumar e aceitar as baboseiras que fala.
- A fonte da informação: Um grande detector de falácias é verificar se as informações apresentam fontes, e de preferência confiáveis. Basear seu argumento numa fonte desconhecida é uma deixa para o erro. Veja que o site, um pouco mais para baixo, diz "Leia agora essa carta para ver como a neurociência tornou isso (a leitura dinâmica) possível... Data: 21 de julho de 2010 (hoje); Para: Todos que querem aumentar a inteligência; Assunto: Conhecimento é poder!; Estudos mostrados pela neurociência cognitiva tem provado como o cérebro[...] Agora considerando que os educadores atualmente explicam para partes conscientes do cérebro, e sabendo que a mesma representa menos de 2% das funções cerebrais totais. Imagine que..." Repare que não existe carta nenhuma, e sim uma motivação banal para escrever mais baboseiras. Diz a "carta" que a neurociência cognitiva tem provado alguma coisa... Veja que não existe a fonte da informação, portanto, é fato que tudo o que se desenrola a partir dessa frase não pode ser visto com seriedade. Ainda mais, diz que nosso cérebro só utiliza 2% das funções totais (só se for a do autor da carta). Fonte?
- O amparo matemático: Uma outra falácia utilizada por esses vendedores é utilizar a matemática como um aliado as suas mentiras. Novamente, não existem fontes que garantam as informações, mas ainda sim eles insistem em colocar números e porcentagens no argumento para parecer que existe alguma verdade neles. O exemplo anterior já mostrou onde esse tipo de falácia se insere e tem mais: "Benefícios imediatos do uso do sistema de fotoleitura dinâmica: Aumentar em mais de 60% a eficiência de leitura; ..." outro uso da matemática para impactar o cidadão: "Como ler livros em 200x, 300x, 500x vezes mais veloz e com muito mais clareza...".
- Falsos depoimentos: Principalmente os sites de vendas na internet são repletos de falsos depoimentos à favor do vendedor, tudo para tentar comprovar sua idoneidade e enganar o comprador.
- Imagem é tudo: Excessos de imagens também são indicadores de pilantragem. O site em questão apresenta diversas fotos de pessoas felizes, bem vestidas e com ares de sucesso, imagens de cientistas famosos (Einstein, Newton).
Em ano de eleição, é bom saber reconhecer esses argumentos falhos na hora de votar. Fique esperto nos debates.
Boa!
ResponderExcluirTexto excelente!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir